Um novo olhar sobre a educação básica

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Novas modalidades de aprendizado trazem o melhor dos dois mundos: o presencial e o online

Em um piscar de olhos, as aulas presenciais foram substituídas pela modalidade de aprendizado on-line e os desafios dessa transição temporária têm sido imensos. Para os alunos com acesso à internet, o grande revés é aprender a gerenciar o tempo dentro de casa e ter disciplina para estudar seguindo a nova proposta. Tudo isso potencializado por um contexto de confinamento em casa, longe dos amigos e professores, enquanto o mundo luta contra o avanço de uma pandemia global.

Em meio à adaptação urgente e necessária, algumas dúvidas surgem. Se a ideia é espelhar o aprendizado em casa no formato ofertado na escola, a carga horária não deveria ser a mesma? Não seria essa uma forma de garantir a efetividade dos conteúdos preconizados no calendário escolar?

Os especialistas, Mônica Braida, diretora pedagógica e psicopedagoga, e Rafael Cunha, VP de Operações do Descomplica.com, garantem que a resposta é: não! Replicar a carga horária presencial nas aulas on-line não é eficaz. Isso porque são duas possibilidades de aprendizagem diferentes. “Se pensarmos que antes de toda esta situação ficávamos preocupados com nossos filhos permanecendo muito tempo diante da tela do computador, seria incoerente dizer que nossos alunos teriam aulas durante cinco horas, virtualmente. Baseados em estudos da neurociência, entendemos que não seria sadio e nem proveitoso para o aluno ficar tanto tempo em frente ao computador ou celular”, explica Mônica Braida.

Segundo a educadora, para a ciência do cérebro, a influência do ambiente, seja ele escolar ou familiar, físico ou virtual, favorece o aprendizado. A diferença é o tipo de estímulo e de aprendizado que cada ambiente gera. “As duas vertentes trazem desenvolvimento pessoal e coletivo, aprendizagens distintas e crescimento acadêmico. Aproveitar da situação que nos foi imposta como possibilidade de crescimento é o que nos motiva a continuar desenvolvendo nosso projeto, entendendo que o aluno de 2020 é um aluno digital e que nunca mais será o mesmo”, salienta Mônica Braida.

Os processos educativos não ocorrem somente na escola, mas em todas as instituições e atividades humanas.” - Paulo Ricardo Zargolin — Foto: Divulgação

Os processos educativos não ocorrem somente na escola, mas em todas as instituições e atividades humanas.” – Paulo Ricardo Zargolin — Foto: Divulgação

E se fosse possível unir o presencial e o virtual?

Imagine só o seguinte modelo educacional! Nele, parte do processo ocorre em sala de aula, onde os alunos interagem entre si trocando experiências. Já em outro momento, os meios digitais entram em cena e permitem que os estudantes tenham mais autonomia à forma de aprendizagem. A proposta do ensino híbrido já existe e é considerada um modelo inovador para a Educação Básica, na medida que permite aplicar os benefícios da tecnologia em sala de aula.

O objetivo é combinar as vantagens da educação presencial e a distância, estimulando as interações socioculturais e proporcionando o contato com as ferramentas tecnológicas do campo da educação. A iniciativa pode ser adotada por escolas das diferentes séries da educação básica, sendo ainda mais comum nos Ensinos Fundamental e Médio.

“Nós não precisamos de mais coisas. Precisamos de mais humanidade.” – Seth Godin — Foto: Divulgação

“Nós não precisamos de mais coisas. Precisamos de mais humanidade.” – Seth Godin — Foto: Divulgação

Com o ensino híbrido é possível promover uma educação mais dinâmica e personalizada. Na fase presencial, os educadores estimulam o convívio social entre os alunos e o professor. Já os exercícios digitais proporcionam mais autonomia ao estudante para escolher local e horário para o seu aprendizado. Tal flexibilidade também faz com que adquira conhecimentos importantes para o seu desenvolvimento profissional.

Mas, e se tudo fosse online?

“Aula em vídeo é apenas uma das ferramentas entre uma série de outras possibilidades para o aprendizado em casa”. A fala é do professor Rafael Cunha, VP de Operações do Descomplica.com, uma das maiores empresas de educação on-line do mundo. Ele acredita que a Pedagogia Digital, termo desenvolvido ao longo de dez anos de atuação em um mercado 100% digital, é uma das promessas para a educação do futuro e compreende cinco proposições básicas:

Infográfico — Foto: Divulgação

Infográfico — Foto: Divulgação
Nesse cenário, essas ferramentas podem ser utilizadas de forma complementar umas às outras. Algumas podem até ser deixadas de lado em determinados casos. O importante é ter em mente que menos é mais. “Vamos pensar em um aluno do Ensino Médio que vai cursar dez disciplinas. Cinco ferramentas multiplicadas por dez disciplinas somariam cinquenta atividades por semana para aquele aluno realizar. E isso não é o ideal. O que a escola precisa fazer é saber qual das cinco ferramentas melhor se aplica à necessidade e ao interesse do estudante, de forma que ele possa, com o menor tempo possível, maximizar sua aprendizagem”, explica Rafael Cunha.
Na prática, isso significa que a escola não deve colocar, por exemplo, 12 horas de aulas gravadas ou ao vivo para o aluno assistir diariamente. Não é necessário dar listas extensas de exercícios por disciplina e é preciso saber exatamente qual o objetivo de verificação de aprendizagem. “Se tiver aprendido, ótimo, ele não precisa ficar fazendo mais do mesmo. É preciso entender que situações de exceção devem ser tratadas como tal. O educador não pode fazer com que a experiência da aula digital, aquela aprendida em casa, seja um ctrl-C e ctrl-V daquilo que é feito em sala de aula. Tentar fazer esse transplante será extremamente desgastante e muito frustrante para o aluno”, enfatiza o professor.
Segundo o especialista, o ambiente da sala de aula, com a presença do professor, é um lugar conhecido por todos. Já as ferramentas digitais trabalhadas em casa compõem um cenário novo de aprendizado e muitas vezes não dialogam diretamente entre si. “Forçar essa barra pode acabar sendo ruim para todos. O ideal é começar experimentando cada possibilidade trazida pelo ambiente virtual. É como a metáfora da piscina: é preciso colocar primeiramente um pé, verificar a temperatura, depois inserir o outro, ir entrando com o restante do corpo, se acostumando à temperatura, até o mergulho. É importante fazer as coisas aos poucos, passo a passo, construindo e entendendo cada momento para um dia, quem sabe, a gente dar um mergulho completo no mundo digital. Se não, vamos extrair desse cenário o que ele tem de melhor”, finaliza.
Afinal, que tipo de escola o aluno quer?
Não restam dúvidas de que os consumidores ficaram muito mais exigentes ao longo dos últimos anos. Essa mesma lógica também pode ser evidenciada em sala de aula, onde alunos da chamada geração Z vivem bombardeados diariamente por muitos estímulos.
Neste contexto, faz sentido manter o estudante em um ambiente em que ele fique o tempo todo ouvindo o professor? Certamente não.
“O essencial, com efeito, na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar.” - Ernest Renan — Foto: Divulgação
“O essencial, com efeito, na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar.” – Ernest Renan — Foto: Divulgação
Uma das principais reivindicações dos estudantes do século XXI é a possibilidade de modificar o processo de aprendizagem, escolhendo as disciplinas que desejam aprender. Algumas escolas já abriram espaço em suas grades para experiências com a cultura maker, a educação para o consumo, entre outras iniciativas que ajudam o jovem a desenvolver novas habilidades e, até mesmo, decidir sua carreira profissional.
Um bom exemplo é a Rede de Ensino APOGEU que, ao longo de 20 anos de atuação no mercado de educação, investe em iniciativas que seguem dando certo e conquistando mais de oito mil alunos em Juiz de Fora e em outras cidades do interior de Minas Gerais e Rio de Janeiro. São projetos que levam em conta o quociente emocional, como o Laboratório Inteligência de Vida, a aproximação das famílias, como o projeto Escola de Pais e disciplinas de livre escolha, como as Trilhas do Conhecimento.
Assim como o APOGEU, escolas que entenderem a verdadeira necessidade do aluno certamente sairão na frente. Com menos pragmatismo e estimulando a criatividade e a ousadia, é possível desenvolver indivíduos que, fora da sala de aula, já sabem o que querem, como querem e de que forma querem.