A história de um professor que misturou Covid-19 e xadrez para falar de matemática

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O que a série recordista em audiência da Netflix, “O gambito da rainha”, tem a ver com a pandemia de Covid-19 e com a matemática? A gente já vai explicar, mas antes você precisa saber que esta história começa com uma provocação feita ao professor da Rede de Ensino APOGEU, Lucas Monteiro de Carvalho.

Afinal, desafiamos ninguém menos que “o cara” que, no terceiro período da graduação na UNIVAS, já dava aula de Introdução à Matemática e Pré-Cálculo, para os calouros que tinham dificuldades com essas disciplinas e trabalhava na preparação de alunos para os concursos militares. Ou seja, cutucamos a pessoa certa e foi dele, inclusive, a ideia de juntar as implicações da crise sanitária com o jogo de xadrez, para explicar que a matemática vai muito além dos números e está presente (e como!) em nosso dia a dia.

Assim como a contaminação pelo coronavírus ocorre de forma exponencial entre os indivíduos, ou seja, uma pessoa é capaz de transmitir o vírus a outras tantas e essas a várias outras ainda, também esse princípio matemático baseia a lenda atribuída à origem do xadrez. Uma estratégia que teria sido usada pelo inventor, para mostrar a um rei que não se deve prometer aquilo que não pode ser cumprido.

Roteirista dessa nossa trama, Lucas explica que a lenda do jogo, que existe há mais de 15 séculos e é praticado por milhões de pessoas ao redor do mundo, conta a história do indiano Sessa, a quem é atribuída a autoria da invenção. Sabendo que Sua Majestade adorava jogos, Sessa quis presenteá-lo com seu invento. Impressionado com o tabuleiro em preto e branco, as peças e as regras inspirados na cultura medieval,o rei exigiu que o súdito quisesse algo em retribuição, pois não aceitava o argumento de desejar vê-lo apenas feliz.

Sendo assim, Sessa pediu que lhe fosse dado em grãos de trigo total da soma que deveria obedecer a seguinte lógica: um grão pela primeira casa, dois pela segunda, quatro pela terceira, oito pela quarta e assim, sucessivamente, com os números sendo exponencialmente multiplicados a cada uma das 64 casas do tabuleiro. O rei então mandou que um de seus guardas buscasse uma pequena saca de trigo para pagar a promessa, ao que Sessa contestou, alegando que não havia no reino trigo suficiente para o pagamento.

Sem entender, o rei ordenou a presença dos sábios que fizeram as contas e concluíram que seriam necessários 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo para o acerto de contas, deixando evidente para Sua Majestade que não seria possível arcar com a promessa feita. Satisfeito com a lição dada, Sessa perdoou a dívidado rei que foi duplamente presenteado: com o jogo e com o conselho de manter a prudência e não prometer coisas que não pudesse cumprir.

E onde entra “O gambito da rainha?

Falar em jogo de xadrez e Covid-19 sem fazer alusão à série exibida pela Netflix no final de outubro de 2020 é uma tarefa quase impossível. Até porque o que não falta é exponencialidade nesta história de sucesso que bateu recordes de audiência, alcançando mais de 62 milhões de lares no mundo nos primeiros 28 dias de exibição, motivados também pela imposição do isolamento social que tem feito da telinha uma boa companheira de jornada.

Reportagem publicada pela revista “Superinteressante” revela que “desde a estreia da série, as pesquisas no Google sobre termos do tipo “como jogar xadrez” e “xadrez regras” cresceram exponencialmente; em plataformas de live streaming de jogo e e-sports, o público de partidas on-line do jogo dobrou em relação a 2019. Em entrevista ao The New York Times, um representante do E-Bay, popular plataforma de comércio eletrônico, estimou que a venda de tabuleiros cresceu 215% desde que a série estreou; a empresa Goliath Games calculou um aumento ainda maior: mais de 1000%”.

Esses números do mundo real derivados de uma história de ficção reforçam um dos mantras que os alunos mais escutam do professor Lucas: “os números sempre querem dizer alguma coisa”. “No cotidiano, quem entende de matemática acaba tendo uma visão mais clara da vida, porque os números estão sempre em comunicação com a gente. Às vezes,se tem tanta discussão em torno de umúnico número que daria para escrever um livro”, ressalta o professor. Ou até mesmo roteirizar filmes e séries. “Só a espécie humana consegue olhar para duas laranjas e associá-las a um símbolo (2) que denominamos dois”, diz.

Para quem não assistiu “O gambito da rainha” aqui vai um resuminho da Superinteressante. “Na trama, acompanhamos a vida e a evolução de Elizabeth Harmon, uma jovem órfã que, na década de 1950, se torna um prodígio do xadrez ainda criança. Ao longo dos anos, a jornada da jogadora é marcada por uma ascensão rápida e impressionante, ao mesmo tempo que enfrenta traumas antigos e vícios autodestrutivos”.#ficaadica tanto de matemática quanto de diversão!